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Presidente do Corinthians é indiciado por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro

Por FI

São Paulo, SP, 22 – A Polícia Civil concluiu nesta quinta-feira, 22, o inquérito do caso Vai de Bet e indiciou Augusto Melo, presidente do Corinthians, por associação criminosa, furto qualificado pelo abuso de confiança e lavagem de dinheiro.

Além dele, foram indiciados o empresário Alex Cassundé, cuja empresa teria recebido R$ 1,4 milhão por supostamente intermediar o negócio com a casa de apostas, e os ex-dirigentes corintianos Marcelo Mariano e Sérgio Moura. Todos respondem pelos mesmos delitos que o mandatário alvinegro.

Em nota oficial, a defesa de Melo, liderada pelo advogado Ricardo Cury, disse ter recebido “com incredulidade e indignação o relatório final do inquérito” e afirmou que emitirá considerações oficiais apenas depois de analisar o documento integralmente. O presidente e Cury vão conceder uma coletiva de imprensa no CT Joaquim Grava, às 15 horas desta sexta-feira.

“Reitera-se a convicção de que o presidente Augusto Melo não possui qualquer envolvimento com eventuais irregularidades relacionadas ao caso. O presidente foi o responsável por viabilizar o maior contrato de patrocínio máster do futebol sul-americano, tendo recebido a proposta, encaminhado aos departamentos competentes e firmado o contrato com a aprovação de todos os setores envolvidos. Esse foi o único papel desempenhado por ele no processo”, diz o comunicado.

Responsável pela defesa de Mariano, o advogado Átila Machado disse, em nota, que o cliente “nunca teve qualquer benefício econômico envolvendo o contrato da empresa Vai de Bet. Ao término da investigação, restou comprovada a absoluta legalidade e licitude de todos os atos praticados pelo Sr. Marcelo Mariano, enquanto atuou como Diretor Administrativo do Corinthians.”

Cláudio Salgado, advogado de Cassundé, disse, via assessoria de imprensa, que não vai se manifestar antes de ter acesso aos termos. Moura ainda não foi localizado.

Ao longo dos últimos meses, o Corinthians teve o nome associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), em razão de valores desviados do contrato entre o clube e a antiga patrocinadora Vai de Bet.

Após quase um ano de investigações, a polícia concluiu que a Rede Social Media, apontada como intermediadora do acordo de patrocínio, usou uma empresa fantasma para fazer R$ 1.074.150,00 chegar à conta bancária da UJ Football Talent Intermediação, empresa apontada como braço do PCC.

A conclusão do inquérito esquenta os bastidores da política corintiana, poucos dias antes da votação do impeachment de Augusto Melo, alvo de quatro pedidos de destituição, um deles justamente em razão do caso Vai de Bet. A reunião que deve decidir o futuro do dirigente está marcada para o dia 26 de maio.

O Corinthians anunciou, em janeiro de 2024, um acordo de patrocínio com a Vai de Bet no valor R$ 360 milhões.

Então superintendente de marketing do clube, Sérgio Moura teria autorizado Alex Cassundé – que havia trabalhado na campanha presidencial de Augusto, por meio de sua empresa Rede Social Media -, a buscar um patrocínio para o Corinthians, conforme versão contado pelo próprio Cassundé em depoimento.

O empresário disse que deu sequência ao assunto com Marcelo Mariano, diretor administrativo e braço direito de Augusto, porque Moura estava de férias.

As versões dadas por cada um dos envolvidos sobre como se deu o acordo são conflitantes. Augusto Melo não foi mencionado por nenhum dos outros três acusados como presente no encontro que ocorreu no clube para falar sobre o patrocínio. O próprio presidente corintiano, contudo, se colocou no episódio ao depor.

Em junho, após as notícias de repasses a “laranjas”, a Vai de Bet rescindiu o contrato de forma unilateral.

Na conclusão do inquérito, o delegado Tiago Fernando Correia atesta que Cassundé não foi o intermediário e não exerceu qualquer tipo de participação na negociação. O relatório conclui que a inclusão das cláusulas contratuais relativas à suposta intermediação do empresário caracterizam um “negócio jurídico simulado” e afirma que “houve uma ação deliberada destinada a desviar dolosamente valores da agremiação, frutos de uma farsa inescrupulosamente engendrada”. Por isso, o indiciamento por furto qualificado.

O indiciamento por associação criminosa se deu porque a Polícia Civil entende que o quarto se aliou “de maneira estável, formando entre si um liame subjetivo e mirando a consecução de um fim comum/ no caso, a perpetração de uma série de crimes. Afinal, como consequência da tal reunião duradoura, seriam pagas ao suposto intermediário (subtraídos do Clube, na realidade) 36 (trinta e seis) prestações de 700 mil reais”.

O texto também pontua que o dinheiro subtraído passou por “empresas fantasmas e foi fracionado” de forma a dificultar o rastreio, o que caracteriza a lavagem de dinheiro. “Todos tinham ciência que, uma vez não sendo Alex o verdadeiro intermediário, os recursos transitariam de forma irregular até alcançar o destino final, fossem terceiros ou não.”

São quatro as empresas envolvidas no caminho feito pelo dinheiro da “intermediação” de contrato:

  • Rede Social Media design Ltda: pertence a Alex Cassundé, um dos alvos da investigação. Atuou na campanha presidencial de Augusto melo como consultora de marketing e, depois, foi escolhida para intermediar o negócio com a Vai de Bet. Recebeu dois depósitos de R$ 700 mil feitos pelo Corinthians, nos dias 18 e 21 de março.
  • Neoway Soluções Integradas em Serviços e Soluções Ltda: Recebeu, da Rede Social Media, parte do R$ 1,4 milhão. Foram dois pagamentos, nos dias 21 e 26 de março. A empresa foi usada como “laranja” para dissimular o destinatário final do dinheiro r nome de Edna Oliveira dos Santos, uma empregada doméstica que vive em Peruíbe. De acordo com a investigação, a Newoay integra um “ grupo criminoso” ao lado de oturos CNPJs: a ACJ Platform, a Thabs Soluções Integradas e a Carvalho Distribuidora.
  • Wave intermediações e tecnologia Ltda: Também apontada como empresa fantasma, foi o terceiro destino no caminho do dinheiro subtraído dos cofres do Corinthians. Registrou uma movimentação de R$ 13 milhões entre os dias 26 de março e 28 à empresa Victory Trading Intermediação de Negócios, Cobranças e Tecnologia Ltda, outra investigada no caso.
  • UJ Football Talent: De acordo com delação de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, assassinado no Aeroporto de Guarulhos em novembro do ano passado, é o braço do PCC no futebol. Recebeu R$ 874.250,00 da Wave e mais R$ 200 da Newoay, enviados à ela pela Victory Trading.